terça-feira, 9 de novembro de 2010

DIÁLOGO NO APRISCO

Duas ovelhas conversavam descontraidamente dentro do curral. Trocavam idéias sobre as companheiras amorosas, sobre os lobos cruéis, mas o assunto central era o pastor.
Diziam nunca ter visto homem mais zeloso do que ele. Interessado no bem-estar do rebanho em geral. Elogiavam sua dedicação. Sua sabedoria ao tratar dos ‘dilemas’ e dificuldades delas era prova de sua maturidade.
O diálogo ia bem até chegar uma terceira falante. Ouviu por alguns instantes e tomou a ‘palavra’. Disse não entender os comentários elogiosos das colegas. “Ele está cumprindo simplesmente com sua obrigação”.
Seria falta de gratidão o modo agressivo da terceira ovelha? Ela contou sua história.
“Morei num aprisco por dez anos. Percebi que o pastor usava todos os meios para usufruir da lã e do nosso leite. Alimentava-nos sempre. Conduzia-nos às sombras de copadas árvores. Águas cristalinas nos eram oferecidas diariamente.”
“Certo dia, porém, o pastor saiu e demorou numa empreitada estranha. Ovelhas adoeceram, outras fugiram e até houve morte de cordeiros.”
“Quando ele retornou, estranhou a situação do rebanho. Declarou não entender o porquê de tanto prejuízo. Que não ficara tanto tempo ausente.”
“Ameaçou: Vocês terão de me aturar como sou! Existem muitos pastos pelo mundo. Fiquem à vontade para escolher em qual querem pastar.”
“A partir daquele dia, senti desejo de me mudar. Entendi que meu pastor encontrara algo mais valioso do que seu rebanho.”
As amigas ouviram-na em silêncio. Em seguida disseram: “Foi melhor você ter-se retirado do que viver em desarmonia com seu pastor. Com líder não se discute.”
“Não se pode generalizar o comportamento dos pastores, disseram. Os modos de gerir são variados. Sabemos que não há perfeição nos homens.”
O diálogo voltou à normalidade.
A verdade é que quando algum fator é encontrado e julgado mais valioso que o rebanho, o responsável deverá, se coerente, pedir sua substituição. O rebanho merece consideração.

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